quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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Estava um fim do dia escuro, as nuvens pareciam algodões cinzentos, amolecidos e carregadinhos de água. A lareira crepitava com uma chama alta, cor de fogo. A sala estava quente e confortável, e apenas se encontrava um candelabro aceso. Os sofás eram gastos e denotava-se a poeira dos armários. Estava deitada de bandulho para baixo e olhava pela janela. A chuva batia miudinha no vidro, com milhões de bolinhas cristalinas semelhantes a lágrimas. Era mais um dia em que me sentia demasiado cansada para fazer o que quer que fosse. Estava revoltada. Não com algo, mas com tudo. Sentia-me sem rumo, como se não pertencesse cá. Eu não me sentia eu, e não havia maneira de fugir a isso. Deitei a cabeça no braço do sofá e fechei os olhos ardentes. Tinha a esperança apagada e a alma esvaiada. Odiava aqueles sentimentos, tão fortes e confusos. Tudo me afectava, até a mais ínfima coisa. Eu não me reconhecia. Era como se a razão já não fizesse parte de mim e aos poucos eu me deixasse levar pela loucura. Sentia-me diferente. Para mim a loucura era mais verdadeira e fácil do que a razão.
Am I getting sick?